CRÔNICA: EU ACREDITO EM ANO NOVO
Eu tenho um amigo que não liga para anos novos. Diz ele que é tudo igual, um dia atrás do outro e que foi a gente quem inventou esse negócio de calendário. Realmente, ele não deixa de ter razão. Fez lembrar até aquele poema do Drummond, que sempre roda as redes sociais quando está se acabando o ano: "Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias/(...)/foi um indivíduo genial./Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão". Mas... aqui pra nós: é tão boa a sensação que a gente tem 365 dias pela frente, pra fazer tudo de novo...
Às vezes, fico brincando de futurologia e imaginando que, daqui a cem, duzentos anos, os estudiosos que resolverem se debruçar sobre a nossa época vão ficar horrorizados com o que virem. Acho que nunca tivemos, na breve comédia humana, uma época tão feia, de tanto desencanto. Tudo é muito barulhento, tudo é muito rápido; tudo tem de ser feito para ontem, de maneira que as pessoas ou estão ansiosas, porque querem adiantar o futuro, ou angustiadas, porque se lamentam do passado.
Vivemos nos gabando do fim da Ditadura, sem nos darmos conta de que, hoje, vivemos não apenas em uma, mas em várias, dadas pelo consumo: a ditadura da beleza, que faz com que as academias estejam lotadas, para a busca de um ideal estético que poucos conseguem obter; a ditadura da felicidade, na qual todos têm a obrigação de estar nos mesmos lugares, senão, você vira escravo de outra ditadura: a do constrangimento. E daí vem as frustrações...
Fiquei chocado ao saber que os consultórios psiquiátricos não têm mais vagas. O que está acontecendo com as pessoas? Estamos todos enlouquecendo? Acho que estamos todos adoecendo... da alma. Cadê a dimensão contemplativa da vida, minha gente? Hoje, no frêmito de se acumular, de se ganhar - sem poder jamais perder ou errar - ninguém mais para pra nada. Parar pra quê? Pra ser atropelado por outrem ou para aumentar a sensação de obsolescência desse mundo louco, que faz gente de 22, 23 anos bater o pé e se sentir "velha".
Já não são mais tão incomuns os casos de pessoas que trocam carreiras estáveis, bons salários, muitas vezes acima da média, em nome de outras atividades, mais prazerosas, ou mesmo de um tempo a mais para viver a vida, de preferência, com o pé no freio, o que mostra que, de fato, está tudo errado com a nossa geração e que precisamos urgentemente de uma mudança. Mas de algo gradual e não aquela loucura de "fim de mundo", que de tempos em tempos assombra a humanidade, como uma panaceia, algo "rápido e indolor", bem ao gosto do hoje em dia.
Sim, amigo, você tem razão. A vida continua como se não existissem calendários, mas eu me filio à corrente majoritária, que prefere acreditar em ano novo. Ou, simplesmente, acreditar. Vejo gente, como eu, cansada dessa loucura da vida de hoje e buscando fazer a diferença. Uma vez, li um pensamento, desses que rodam pela internet, que dizia: "você não pode mudar o passado, mas pode fazer um novo futuro". E, para isso, desculpe-me, amigo, mas eu preciso dos meus 365 dias. Que podem não ser muita coisa, vá lá! Mas que, pelo menos, me dão alguma esperança.
Eu tenho um amigo que não liga para anos novos. Diz ele que é tudo igual, um dia atrás do outro e que foi a gente quem inventou esse negócio de calendário. Realmente, ele não deixa de ter razão. Fez lembrar até aquele poema do Drummond, que sempre roda as redes sociais quando está se acabando o ano: "Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias/(...)/foi um indivíduo genial./Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão". Mas... aqui pra nós: é tão boa a sensação que a gente tem 365 dias pela frente, pra fazer tudo de novo...
Às vezes, fico brincando de futurologia e imaginando que, daqui a cem, duzentos anos, os estudiosos que resolverem se debruçar sobre a nossa época vão ficar horrorizados com o que virem. Acho que nunca tivemos, na breve comédia humana, uma época tão feia, de tanto desencanto. Tudo é muito barulhento, tudo é muito rápido; tudo tem de ser feito para ontem, de maneira que as pessoas ou estão ansiosas, porque querem adiantar o futuro, ou angustiadas, porque se lamentam do passado.
Vivemos nos gabando do fim da Ditadura, sem nos darmos conta de que, hoje, vivemos não apenas em uma, mas em várias, dadas pelo consumo: a ditadura da beleza, que faz com que as academias estejam lotadas, para a busca de um ideal estético que poucos conseguem obter; a ditadura da felicidade, na qual todos têm a obrigação de estar nos mesmos lugares, senão, você vira escravo de outra ditadura: a do constrangimento. E daí vem as frustrações...
Fiquei chocado ao saber que os consultórios psiquiátricos não têm mais vagas. O que está acontecendo com as pessoas? Estamos todos enlouquecendo? Acho que estamos todos adoecendo... da alma. Cadê a dimensão contemplativa da vida, minha gente? Hoje, no frêmito de se acumular, de se ganhar - sem poder jamais perder ou errar - ninguém mais para pra nada. Parar pra quê? Pra ser atropelado por outrem ou para aumentar a sensação de obsolescência desse mundo louco, que faz gente de 22, 23 anos bater o pé e se sentir "velha".
Já não são mais tão incomuns os casos de pessoas que trocam carreiras estáveis, bons salários, muitas vezes acima da média, em nome de outras atividades, mais prazerosas, ou mesmo de um tempo a mais para viver a vida, de preferência, com o pé no freio, o que mostra que, de fato, está tudo errado com a nossa geração e que precisamos urgentemente de uma mudança. Mas de algo gradual e não aquela loucura de "fim de mundo", que de tempos em tempos assombra a humanidade, como uma panaceia, algo "rápido e indolor", bem ao gosto do hoje em dia.
Sim, amigo, você tem razão. A vida continua como se não existissem calendários, mas eu me filio à corrente majoritária, que prefere acreditar em ano novo. Ou, simplesmente, acreditar. Vejo gente, como eu, cansada dessa loucura da vida de hoje e buscando fazer a diferença. Uma vez, li um pensamento, desses que rodam pela internet, que dizia: "você não pode mudar o passado, mas pode fazer um novo futuro". E, para isso, desculpe-me, amigo, mas eu preciso dos meus 365 dias. Que podem não ser muita coisa, vá lá! Mas que, pelo menos, me dão alguma esperança.