Sindicalista critica lideranças
CSN - 20 anos da privatização
É provável que pouquíssimas pessoas tenham lido com atenção o edital de privatização da CSN. Não que o contrário significasse mudar a determinação do governo de vender empresas estatais naquele início de anos 1990. Ocorre que o debate ficou apenas no campo ideológico: de um lado os que eram a favor, do outros, os que estavam contra. Não houve um movimento organizado que chamasse a atenção para o fato de que estava em jogo o futuro não apenas de uma usina siderúrgica, mas também das consequências para a cidade nascida e desenvolvida em seu entorno.
A privatização da CSN se deu com o apoio, outrora impensável, do poderoso Sindicato dos Metalúrgicos, o mesmo que, tendo à frente Juarez Antunes, somente cinco anos antes havia liderado a greve na empresa que culminou com a morte de três operários, em confronto com o Exército, na busca do cumprimento de reivindicações trabalhistas, como o turno de seis horas.
A morte de Juarez, em fevereiro de 1989, deixou o sindicato sem um líder carismático e, pior ainda, com seus seguidores rachados. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) perdeu o comando da entidade para a Força Sindical depois que um grupo dissidente, denominado "Formigueiro", passou a apoiar a privatização, se aliando a Lima Netto. O principal expoente deste grupo é Luiz de Oliveira Rodrigues, o Luizinho, que, passados vinte anos, afirma que Volta Redonda abriu mão de debater o processo, deixando escapar a oportunidade de discutir contrapartidas para a cidade.
Antes, porém, o sindicalista reitera sua visão de que não havia outra saída para a CSN. "Era uma empresa que, como estatal, não conseguia competir. Falam muito do preço (de venda), mas o pessoal (investidores) tinha tanto medo de entrar na CSN que no dia do leilão não foram vendidos os 51%. O BNDES teve que esperar mais dois dias para conseguir vender, do contrário o leilão não teria validade", relembrou.
- O mercado não queria comprar a CSN, que precisava de grandes investimentos em tecnologia. Quando você privatiza uma empresa que desperta interesse aparecem dois, três consórcios, como foi com a Vale. Por que só teve um na CSN?
A crítica do sindicalista à cidade é por não ter havido disposição para dialogar: "Os atores políticos e econômicos de Volta Redonda fizeram questão de ficar de fora do processo, que poderia ter sido muito melhor para Volta Redonda. O edital estava aberto (a proposições)".
Para exemplificar, Luizinho conta que, certa vez, estava na antessala do presidente do Programa Nacional de Desestatização (PND), aguardando ser atendido por André Franco Montoro Filho, que naquele momento estava reunido com o então prefeito Paulo Baltazar, o então deputado federal Marino Clinger, Doralice Fernandes e o bispo de Volta Redonda, dom Waldyr Calheiros. Segundo Luizinho, depois que eles saíram, Montoro Filho disse que Baltazar tinha demonstrado preocupação apenas com o passivo ambiental, enquanto os demais somente se posicionaram contra a privatização, pedindo que o processo fosse interrompido.
- Se a cidade tivesse participado, o edital seria outro – acredita Luizinho.
O ex-presidente do sindicato admite: "Ninguém sabia que tinha terra sendo vendida junto, acho que nem quem preparou o edital sabia". Ou melhor, quase ninguém: "O (Luiz) Xavier (também diretor da CSN à época) chamou muito a atenção para isso".
‘Trabalhador não teve consciência do poder’
Considerando a privatização fato consumado, a preocupação do sindicato, afirma Luizinho, era com os funcionários e sua participação no processo. Porém, ele lamenta que os trabalhadores não tenham conseguido enxergar o tamanho do poder que tinham nas mãos com as ações da CSN, se tornando acionistas através do clube criado para permitir a participação. "O Clube de Investimentos CSN chegou a ser a segunda maior empresa da região, com R$ 400 milhões em ações. Éramos os maiores acionistas, mas os trabalhadores não tiveram consciência disso".
Para ele, de certa forma os operários foram levados pelo discurso de Lima Netto de que as ações os deixariam ricos, o que fez com que muitos se desfizessem dos papéis em pouco tempo: "A cultura do trabalhador é de ganhar dinheiro e não de conquistar poder".
Luizinho avalia que não é possível imaginar a CSN nos dias de hoje se não tivesse sido privatizada. "A empresa dava prejuízo diário de US$ 1 milhão. A ordem do governo era deixar fechar, embora é certo que não tivesse coragem para deixar acontecer. Mas seria uma empresa falida", afirmou. Ele lembra que, nos anos 1980, já em grave crise, a empresa deixou de pagar a "girafa", uma espécie de participação nos resultados daquela época, e atrasou salários: "Foi um sinal evidente de que o projeto de 1940, de ter uma cidade cuidada pela empresa, estava falido".
Luizinho defende o papel exercido pelo sindicato, de "diminuir o sofrimento" dos empregados durante o "doloroso processo de saneamento". A CSN, enfatizou, tinha 24 mil funcionários, fora 12 mil indiretos. Hoje, são oito mil empregos diretos.
Após a privatização, Luizinho passou a ter assento no Conselho de Administração da CSN, com direito a três dos cinco votos, como representante da Vale, da Previ e do Clube de Investimentos. E conta uma passagem interessante para ilustrar que nem mesmo os investidores sabiam o que, de fato, tinham recebido ao comprar a CSN: "Numa das primeiras reuniões do conselho, foi lida a carta de um interessado em comprar uma faixa de terra às margens da Rodovia dos Metalúrgicos. Só então eles se deram conta do patrimônio que foi junto e contrataram uma empresa para auditar as terras e determinar o valor".
Enfrentando até agora as críticas de outros sindicalistas pela postura adotada na privatização, Luizinho reitera que não havia alternativa e que o sindicato tentou defender sua categoria: "Até hoje não houve uma denúncia de que, neste processo, o sindicato tenha se metido em qualquer promiscuidade".
CSN - 20 anos da privatização
É provável que pouquíssimas pessoas tenham lido com atenção o edital de privatização da CSN. Não que o contrário significasse mudar a determinação do governo de vender empresas estatais naquele início de anos 1990. Ocorre que o debate ficou apenas no campo ideológico: de um lado os que eram a favor, do outros, os que estavam contra. Não houve um movimento organizado que chamasse a atenção para o fato de que estava em jogo o futuro não apenas de uma usina siderúrgica, mas também das consequências para a cidade nascida e desenvolvida em seu entorno.
A privatização da CSN se deu com o apoio, outrora impensável, do poderoso Sindicato dos Metalúrgicos, o mesmo que, tendo à frente Juarez Antunes, somente cinco anos antes havia liderado a greve na empresa que culminou com a morte de três operários, em confronto com o Exército, na busca do cumprimento de reivindicações trabalhistas, como o turno de seis horas.
A morte de Juarez, em fevereiro de 1989, deixou o sindicato sem um líder carismático e, pior ainda, com seus seguidores rachados. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) perdeu o comando da entidade para a Força Sindical depois que um grupo dissidente, denominado "Formigueiro", passou a apoiar a privatização, se aliando a Lima Netto. O principal expoente deste grupo é Luiz de Oliveira Rodrigues, o Luizinho, que, passados vinte anos, afirma que Volta Redonda abriu mão de debater o processo, deixando escapar a oportunidade de discutir contrapartidas para a cidade.
Antes, porém, o sindicalista reitera sua visão de que não havia outra saída para a CSN. "Era uma empresa que, como estatal, não conseguia competir. Falam muito do preço (de venda), mas o pessoal (investidores) tinha tanto medo de entrar na CSN que no dia do leilão não foram vendidos os 51%. O BNDES teve que esperar mais dois dias para conseguir vender, do contrário o leilão não teria validade", relembrou.
- O mercado não queria comprar a CSN, que precisava de grandes investimentos em tecnologia. Quando você privatiza uma empresa que desperta interesse aparecem dois, três consórcios, como foi com a Vale. Por que só teve um na CSN?
A crítica do sindicalista à cidade é por não ter havido disposição para dialogar: "Os atores políticos e econômicos de Volta Redonda fizeram questão de ficar de fora do processo, que poderia ter sido muito melhor para Volta Redonda. O edital estava aberto (a proposições)".
Para exemplificar, Luizinho conta que, certa vez, estava na antessala do presidente do Programa Nacional de Desestatização (PND), aguardando ser atendido por André Franco Montoro Filho, que naquele momento estava reunido com o então prefeito Paulo Baltazar, o então deputado federal Marino Clinger, Doralice Fernandes e o bispo de Volta Redonda, dom Waldyr Calheiros. Segundo Luizinho, depois que eles saíram, Montoro Filho disse que Baltazar tinha demonstrado preocupação apenas com o passivo ambiental, enquanto os demais somente se posicionaram contra a privatização, pedindo que o processo fosse interrompido.
- Se a cidade tivesse participado, o edital seria outro – acredita Luizinho.
O ex-presidente do sindicato admite: "Ninguém sabia que tinha terra sendo vendida junto, acho que nem quem preparou o edital sabia". Ou melhor, quase ninguém: "O (Luiz) Xavier (também diretor da CSN à época) chamou muito a atenção para isso".
‘Trabalhador não teve consciência do poder’
Considerando a privatização fato consumado, a preocupação do sindicato, afirma Luizinho, era com os funcionários e sua participação no processo. Porém, ele lamenta que os trabalhadores não tenham conseguido enxergar o tamanho do poder que tinham nas mãos com as ações da CSN, se tornando acionistas através do clube criado para permitir a participação. "O Clube de Investimentos CSN chegou a ser a segunda maior empresa da região, com R$ 400 milhões em ações. Éramos os maiores acionistas, mas os trabalhadores não tiveram consciência disso".
Para ele, de certa forma os operários foram levados pelo discurso de Lima Netto de que as ações os deixariam ricos, o que fez com que muitos se desfizessem dos papéis em pouco tempo: "A cultura do trabalhador é de ganhar dinheiro e não de conquistar poder".
Luizinho avalia que não é possível imaginar a CSN nos dias de hoje se não tivesse sido privatizada. "A empresa dava prejuízo diário de US$ 1 milhão. A ordem do governo era deixar fechar, embora é certo que não tivesse coragem para deixar acontecer. Mas seria uma empresa falida", afirmou. Ele lembra que, nos anos 1980, já em grave crise, a empresa deixou de pagar a "girafa", uma espécie de participação nos resultados daquela época, e atrasou salários: "Foi um sinal evidente de que o projeto de 1940, de ter uma cidade cuidada pela empresa, estava falido".
Luizinho defende o papel exercido pelo sindicato, de "diminuir o sofrimento" dos empregados durante o "doloroso processo de saneamento". A CSN, enfatizou, tinha 24 mil funcionários, fora 12 mil indiretos. Hoje, são oito mil empregos diretos.
Após a privatização, Luizinho passou a ter assento no Conselho de Administração da CSN, com direito a três dos cinco votos, como representante da Vale, da Previ e do Clube de Investimentos. E conta uma passagem interessante para ilustrar que nem mesmo os investidores sabiam o que, de fato, tinham recebido ao comprar a CSN: "Numa das primeiras reuniões do conselho, foi lida a carta de um interessado em comprar uma faixa de terra às margens da Rodovia dos Metalúrgicos. Só então eles se deram conta do patrimônio que foi junto e contrataram uma empresa para auditar as terras e determinar o valor".
Enfrentando até agora as críticas de outros sindicalistas pela postura adotada na privatização, Luizinho reitera que não havia alternativa e que o sindicato tentou defender sua categoria: "Até hoje não houve uma denúncia de que, neste processo, o sindicato tenha se metido em qualquer promiscuidade".
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