No olhar do meu pai
Na mente lances repletos de intensa vida. A visão de si e do mundo nos
chegam pelos olhares mais freqüentes com os quais convivemos. È
impossível não nos lembrarmos dos olhares paternos. Olhar de aprovação,
olhar de reprovação, olhar de ternura, olhar de admiração. Emoções
tornadas visíveis. “Os olhos são o espelho da alma” expressa o dito
popular. Sim, muito mais do que as palavras, os olhos nos falam.
As palavras nos servem para reproduzir nas entrelinhas as marcas profundas de dias em que nos olhamos. Alguns olhares, apesar de não serem verbalizados, permanecem arraigados nas profundezas da alma. Muitos desses olhares com o passar do tempo agem como o foco das lanternas, iluminando os caminhos que percorremos.
As palavras nos servem para reproduzir nas entrelinhas as marcas profundas de dias em que nos olhamos. Alguns olhares, apesar de não serem verbalizados, permanecem arraigados nas profundezas da alma. Muitos desses olhares com o passar do tempo agem como o foco das lanternas, iluminando os caminhos que percorremos.
Dentre tantas lembranças, gosto do mundo da alegria, das festas
familiares. Muita música, muitos quitutes; crianças e adultos no
farfalhar dos gestos. Como nada dura para sempre, em seguida o trabalho;
colocar tudo no seu devido lugar. Muito próxima a meu pai, correndo de
um lado para outro, no desejo de atender aos seus pedidos. Lembro-me
dele jovem, cheio de vigor, olhos brilhantes e confiantes. Da sua
confiança a minha confiança. Lembro-me também de seus olhos tristes,
acabrunhados, desesperados na perda de sua mãe. Da sua tristeza fez-se a
minha também.
Pai, “pai herói”, na infância parecia-me perfeito. Com seu carinho sentia-me amada. Com seu olhar orgulhoso, sentia-me única e bela. Sob seus olhos criei minha auto-estima. Contudo, na adolescência pareceu-me enfraquecido e não reconhecia mais o meu herói. Dei-me conta da sua humanidade. No transcorrer do tempo, as perdas de emprego, da juventude, da mãe. De perda em perda o vi transformando-se. A dignidade e humor intactos, mas o corpo curvado e o olhar embaçado. O meu orgulho pelo pai herói transformou-se em orgulho pelo homem e em imensa gratidão e ternura.
Pai, “pai herói”, na infância parecia-me perfeito. Com seu carinho sentia-me amada. Com seu olhar orgulhoso, sentia-me única e bela. Sob seus olhos criei minha auto-estima. Contudo, na adolescência pareceu-me enfraquecido e não reconhecia mais o meu herói. Dei-me conta da sua humanidade. No transcorrer do tempo, as perdas de emprego, da juventude, da mãe. De perda em perda o vi transformando-se. A dignidade e humor intactos, mas o corpo curvado e o olhar embaçado. O meu orgulho pelo pai herói transformou-se em orgulho pelo homem e em imensa gratidão e ternura.
No compasso do tempo somamos diversos e diferentes olhares. Como marca, trago para a vida um olhar atento para este mundo tão transformado, cada vez mais violento e desumano, mundo não alcançado por meu pai. Por vezes, busco no meu íntimo sua referência e extraio dela uma nova visão. Uma visão que me permite ter esperança. Esperança de olhares ternos, solidários e mais justos.
Hoje, as formas de reprodução dos olhares ampliaram-se através da tecnologia. Formas que nos permitem registrar momentos para a posteridade. Os meios de comunicação ampliam os horizontes das pessoas. Mistura-se o real ao imaginário. Mas, os principais registros dos nossos olhares são aqueles que ficam do nosso cotidiano.
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