Manifestantes protestam na escadaria da Câmara Municipal, no Rio (Foto: Luís Bulcão/G1)
Uma manifestação pacífica passou pelo centro do
Rio de Janeirona
tarde desta segunda-feira (24). A caminhada começou às 17h15 no entorno
da Candelária e seguiu pela Avenida Rio Branco em direção à Cinelândia.
Logo no início, uma manifestante utilizou um megafone para citar o
artigo primeiro da Constituição: “todo o poder emana do povo”. Era
Cíntia Casanova, de 27 anos, estudante. Ela se identifica como
integrante de um grupo recém criado e um dos organizadores da passeata, o
União Contra a Corrupção (UCC). Para ela, o ensino da Carta Magna deve
ser incluído no currículo escolar. “Só assim vamos construir pessoas
capazes de exercer um pensamento e uma luta democrática”, disse ao G1.
Ainda na Candelária, o grupo cantou o Hino Nacional e fez coro pedindo paz durante os protestos (
vídeo ao lado).
As reivindicações expressas nos cartazes eram variadas. Entre elas, a
reforma política, a não aprovação da PEC 37, a saída de Renan Calheiros
da presidência do Senado e o aumento de salários para professores e
profissionais de saúde. Uma faixa preta de 23 metros de comprimento
pedia o fim do voto obrigatório. Foi feita pelo comerciante Leandro
Vieira, de 31 anos, com a ajuda de um irmão e de um primo, e serviu para
organizar a passeata, que boa parte do tempo atrás da faixa.
Durante a caminhada, houve pequenos incidentes, mas nenhum confronto
entre manifestantes e policiais. A Polícia Militar organizou cordões de
policiais em ambos lados da via para não permitir que vitrines do
comércio local fossem atingidas. Na esquina da Rua Sete de Setembro, um
grupo de policiais abordou dois manifestantes, que usavam máscaras (
vídeo ao lado).
Os jovens foram revistados e liberados. No entanto, a maioria dos
poucos atos isolados de vandalismo foi coibida pelos próprios
manifestantes, que vaiavam e pediam paz com gritos de “sem violência”.
Homem segura cartaz pedindo aprovação da
PEC 300 e recebe apoio de policial
(Foto: Luís Bulcão/G1)
Por volta das 19h20, a passeata chegou à Cinelândia, onde um cordão de
policiais militares protegia o a entrada do Theatro Municipal. O
servidor público Adriano Barbosa, de 35 anos, foi à frente do grupo com
um cartaz pedindo a aprovação da PEC 300, que aumenta os soldos dos
policiais. Um policial deu a mão a Barbosa em sinal de apoio. “Não é só
criticar. Tem policial truculento, mas eu conheço muitos policiais de
bem”, disse Adriano.
Manifestantes usam o humor em cartazes no Rio
(Foto: Luís Bulcão/G1)
Às 19h30, os manifestantes se concentraram na escadaria da Câmara dos
Vereadores. Diversos cartazes apresentavam revindicações com humor. Um
deles utilizava uma expressão dos habitantes do norte do mundo fictício
de Westeros, da série de sucesso do canal americano HBO, Game of
Thrones. "O inverno está chegando", anunciava.
Um manifestante soltou um rojão, assustando os demais integrantes, que
vaiaram. Em um princípio de confusão, os próprios manifestantes
seguraram um homem e o entregaram para a polícia. Mais tarde a Polícia
Militar informou que um homem foi preso por tentar furtar um celular
durante a manifestação.
Às 21h, os manifestantes se dispersaram, sem incidentes de conflito ou
vandalismo. O único transtorno causado pelo protesto foi no trânsito,
que ficou lento na região com uma das principais vias do Centro fechada.
De acordo com a Polícia Militar, a passeata reuniu cerca de mil
pessoas.
Maratona de manifestações
Incansáveis, as parceiras Ana Lúcia Moisés, de 29 anos, estudante de
estatística, e Roberta Amorim, de 27 anos, professora de educação
física, participaram de cinco manifestações nos últimos cinco dias, no
centro do Rio, na barra da Tijuca, em frete à casa do governador, em
Copacabana e, nesta segunda-feira (24) na Candelária.
Cinco manifestações em cinco dias, jovens não se cansam de pedir um Brasil melhor (Foto: Luís Bulcão/G1))
"Esse movimento, desde as Diretas Já e os Caras Pintadas, é histórico.
Nesse meio tempo, aconteceu muita coisa e todo mundo ficou quieto", diz
Ana Lúcia. Para ela, as manifestações não querem derrubar os
governantes. "É a vontade de que haja uma mudança social. Não é contra
democracia. A gente quer uma democracia que funcione. A gente não quer
tirar a Dilma, mas sim que ela faça a democracia funcionar com mais
eficiência".
Ana Lúcia considera que o movimento seja uma resposta a reivindicações
que já eram feitas pelo povo, mas não eram atendidas. “Colhemos 1,3
milhão de assinaturas contra a eleição de Renan Calheiros para o Senado,
mas deram de ombros. Foi a mesma coisa com o Feliciano. Agora não vão
poder mais nos ignorar", afirma.
Sem violência
Para a manifestante, a violência não representa a maioria e é uma
consequência menor das mobilizações. "Tem um grupo de vândalos que se
aproveita, mas não é o ponto central. A polícia deveria se concentrar em
coibir a ação de vândalos e de pessoas que fazem saques ao invés de
reprimir as manifestações", opina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário