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2 de dez. de 2012


71% das doações a candidatos a prefeito de capitais foram ocultas
No país, 1/5 das doações a candidatos no 1º turno das eleições foi indireta.
Levantamento do G1 mostra ranking dos maiores doadores dos partidos.

    Candidatos gastaram R$ 3,58 bilhões no 1º turno das eleições 2012 no país

Levantamento do G1 junto às prestações de contas finais dos candidatos às prefeituras nas capitais do país mostra que 71% das doações de campanha foram "ocultas", ou seja, repassadas indiretamente aos candidatos por meio de comitês e diretórios dos partidos nas eleições 2012. O percentual está acima do nacional, de 20,6%. Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram ainda que as doações entre comitês e diretórios dos partidos dificultam ou impossibilitam saber quem é o doador do candidato, mas, pela primeira vez, é possível traçar quem são os maiores doadores das legendas (veja tabela ao final) – as siglas que mais arrecadaram foram também as que mais elegeram candidatos neste ano.
Capitais com os maiores percentuais do país em doações 'ocultas' a candidatos às prefeituras nas eleições 2012
Capital
    Arrecadação
total (R$)
    Doação 'oculta' (R$)
    %'oculta'/
total
SP
    97.192.200,57     89.376.691,17     92%
RS
    9.133.600,09      8.081.858,75     88,5%
RN
    12.835.468,52     11.299.533,88     88%
RR
    2.857.894,84     2.477.151,44     86,7%
RJ
    30.418.978,81     25.739.151,28     84,6%
AL
    6.922.612,63     5.804.463,43     83,8%
SE
    5.407.009,57     4.440.042,03     82,1%
MG
    38.998.263,40     31.925.671,65     81,9%
AP
    4.417.717,61     3.586.011,66     81,2%
BA
    42.206.175,86     33.495.025,15     79,4%
*Fonte: Tribunal Superior Eleitoral

Segundo o levantamento junto aos dados dos candidatos às prefeituras das 26 capitais do país, dos R$ 489,5 milhões recebidos, R$ 350 milhões foram repassados indiretamente por diretórios dos partidos ou comitês.

Na chamada "doação oculta", os doadores de campanha, em geral empresas privadas e construtoras, preferem fazer os repasses para os comitês criados pelos partidos ou aos próprios diretórios das legendas, que repassam a verba aos candidados. Assim, os doadores não vinculam diretamente seus nomes aos dos políticos.

Capitais estão acima da média
Segundo os dados do TSE, São Paulo é a capital com os maiores percentuais de doação "oculta" do país. Foram R$ 89,3 milhões repassados aos candidatos indiretamente.

Os números das capitais são muito superiores se comparados ao nacional. O G1 contabilizou o percentual geral de doação "oculta" no primeiro turno. Somadas as receitas de todos os candidatos do país, a prefeito e a vereador, a parcela de doação indireta chega a 20,6% do recebido. Do total de R$ 3,53 milhões em arrecadação, R$ 742,3 milhões foram declarados como provenientes dos diretórios dos partidos e de comitês financeiros.
Maiores somas de doações 'ocultas' nas capitais em 2012
Candidatos
    Total (R$)     Partidos
    Total (R$)
Fernando Haddad (PT)     38.181.736,16     PT     95.420.867,04
José Serra
(PSDB)     31.809.353,58     PSDB     62.381.187,51
ACM Neto (DEM)     19.588.500     PMDB     53.692.893,18
Eduardo  Paes (PMDB)     18.792.463,10     PSB     44.622.227,64
Patrus Ananias (PT)     16.509.395,90     DEM     34.877.458,70
Márcio Lacerda (PSB)     15.386.270,37     PDT     16.743.997,12

Em São Paulo, Levy Fidelix declarou que 99,76% de sua receita foi recebida de forma indireta. Em seguida, proporcionalmente, estão José Serra (PSDB), com 94,74% de doações recebidas de comitês financeiros; Soninha Francine (PPS), com 91,68% das doações ocultas; e o prefeito eleito Fernando Haddad (PT), com 90,73%.

Nas capitais, 16 candidatos receberam 100% das doações de forma "oculta", como revelam as prestações de contas de Anaí Caproni (PCO), em São Paulo; Jerônimo Maranhão (PMN), em Manaus; Cyro Garcia (PSTU), no Rio de Janeiro; e Teresa Surita (PMDB), única mulher eleita prefeita em uma capital neste ano, em Boa Vista.

Apenas 36 candidatos às prefeituras das capitais declararam não ter recebido de nenhuma fonte indireta, contra 142 que declararam recurso obtido por meio de comitês e diretórios. Até o fechamento desta reportagem, 17 candidatos ainda não haviam apresentado prestação de contas de campanha, mas nenhum deles concorreu no segundo turno. O último prazo para a entrega foi encerrado no dia 26 de novembro.

Partidos e comitês
Ainda conforme o levantamento do G1, mesmo dentro de partidos e comitês há doações "ocultas".
ranking receitas eleições (Foto: Editoria de Arte / G1)

Do total de R$ 819,7 milhões recebidos pelos partidos em 2012, 25,4% – R$ 207,4 milhões – foram contabilizados indiretamente como doações de diretórios e comitês de campanha. Os comitês registraram R$ 796,1 milhões em doações, dos quais 36% – R$ 286,7 milhões – foram feitas de maneira indireta.

Juntos, partidos políticos e comitês eleitorais arrecadaram R$ 1,615 bilhão para campanhas no primeiro turno. A verba, no entanto, não foi totalmente repassada aos candidatos, mesmo que indiretamente. As legendas declararam ter repassado R$ 714 milhões em doações para candidatos, comitês e partidos. Os comitês, R$ 214,3 milhões. O restante foi declarado como despesa com comícios, energia elétrica, telefone, água, alimentação.

'Caminho oculto' do dinheiro
O TSE tornou obrigatório, na eleição municipal de 2012, ao comitê ou partido ter uma conta bancária exclusiva para a movimentação de valores de campanha eleitoral, medida tomada para evitar que dinheiro de doações se misturasse com recursos das contas internas.
Ranking da receita, por Direção Nacional do partido
PT     R$ 177.100.163,02
PMDB     R$ 119.775.708,67
PSDB     R$ 69.934.000,02
PSB     R$ 69.459.089
DEM     R$ 37.342.500,09
*Fonte: Tribunal Superior Eleitoral

Assim, é possível pela primeira vez consultar quem são os doadores de comitês, partidos e direção nacional. O caminho do dinheiro até os candidatos, no entanto, continua obscuro. Veja o que disseram especialistas ao G1.

Custo x benefício
Os números divulgados pelo TSE mostram que PMDB e PSDB, partidos que mais receberam doações de campanha, também foram os que mais elegeram prefeitos no país, 1.031 e 702, respectivamente. O PMDB arrecadou R$ 222,9 milhões, enquanto que o PSDB conseguiu R$ 128,2 milhões.

Em seguida aparecem PSB, a sigla que obteve o maior número de prefeituras nas capitais do país; PT, terceiro a conquistar mais prefeituras e o que mais conquistou o Executivo de cidades grandes; e PSD, que, em sua primeira eleição, elegeu 497 prefeitos.
Ranking de arrecadação total de partidos em 2012
PMDB     R$ 222.967.997,38
PSDB     R$ 128.224.277,37
PSB     R$ 94.258.749,31
PT     R$ 84.974.041,09
PSD     R$ 62.011.717,86
DEM     R$ 51.268.761,69
*Fonte: Tribunal Superior Eleitoral

O DEM aparece em 6º lugar no ranking de doações, mas foi o nono partido que mais conquistou prefeituras. O PCB foi a sigla que menos arrecadou para campanhas, R$ 20.003,50 ao todo no país.

Doadores dos partidos
Segundo os dados da Justiça Eleitoral, a maior parte das doações a partidos veio de origem "não especificada", conforme nomenclatura utilizada pelo tribunal: R$ 610,2 milhões. A segunda maior fonte foi o fundo partidário, com R$ 36,5 milhões.

No país, as maiores doações vindas de pessoas jurídicas aos partidos são das construtoras Andrade Gutierrez (R$ 53,2 milhões), OAS (R$ 23 milhões), Queiroz Galvão (R$ 30,8 milhões) e da empresa JBS (R$ 12,1 milhões). Juntas, elas somaram R$ 107 milhões em doações feitas diretamente às siglas.

Grande parte dos recursos foi transferida por meio eletrônico (R$ 627,2 milhões), seguida de cheque (R$ 115,8 milhões), depósito em espécie (R$ 35,4 milhões) e aplicação do fundo partidário (R$ 25,4 milhões).
Maiores doadores de partidos, na soma das doações no país, segundo prestação de contas final do 1º turno
PMDB

    Direção Nacional     R$ 56.882.575,02
      CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ     R$ 15.875.000
      CONSTRUTORA QUEIROZ GALVAO S.A.     R$ 11.830.000
      CONSTRUTORA OAS LTDA     R$ 8.820.000
      VALE FERTILIZANTES     R$ 5.650.000
PSDB
      Direção Nacional     R$ 13.487.600
      CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ SA     R$ 11.820.000
      Direção Estadual/Distrital     R$ 5.732.494,46
      JBS S/A     R$ 5.200.000
      CONSTRUCOES E COMERCIO CAMARGO CORREA S/A     R$ 5.000.000
PSB

    Direção Nacional     R$ 16.808.690,91
      CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S.A     R$ 6.650.000
      CONSTRUTORA QUEIROZ GALVÃO S.A     R$ 3.350.000
      CONSTRUTORA OAS LTDA     R$ 2.650.000
      VAN OORD SERVIÇOS DE OPERAÇÕES MARITIMAS LTDA     R$ 2.500.000
PT

    Direção Nacional     R$ 18.089.793
      Direção Estadual/Distrital     R$ 6.710.585,60
      CONSTRUTORA OAS LTDA     R$ 2.420.000
      HOSPITAL 9 DE JULHO S/A     R$ 2.050.000
      SUCOCITRICO CUTRALE LTDA     R$ 2.000.000
PSD
      Direção Nacional     R$ 16.110.000
      CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S/A     R$ 4.550.000
      CONSTRUTORA QUEIROZ GALVÃO S.A.     R$ 2.600.000
      CONTAX S.A.     R$ 2.130.000
      CONSTRUTORA OAS LTDA     R$ 1.400.000

Arrecadação dos comitês financeiros
Os dados das prestações de contas mostram que os comitês receberam R$ 796,1 milhões para utilizar em campanhas de seus candidatos. Desse total, R$ 471,5 milhões foram declarados de fonte "não especificada" e R$ 366,7 milhões foram repassados por meio de transferência eletrônica.
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Nesse tipo de doação, o PT ultrapassa o PMDB e é o que mais arrecadou verba de campanha por meio de seus comitês eleitorais. Em seguida aparecem PSDB, PSD e PSB.

Quanto ao tipo de receita, os comitês receberam R$ 257,9 milhões provindos dos partidos políticos, R$ 253,5 milhões de pessoas jurídicas e R$ 218,5 milhões de pessoas físicas.

As maiores doações são provenientes das direções nacionais, estaduais e municipais dos partidos, dos comitês financeiros municipais, único, para prefeito e para vereador: R$ 282 milhões. Somente da direção nacional foram R$ 148,9 milhões.

O TSE ainda não divulgou os dados consolidados com as prestações de conta das receitas e despesas nas 50 cidades onde ocorreu segundo turno.

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