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26 de nov. de 2012

Única forma de acesso aos cursos de graduação das principais universidades federais, o Exame Nacional de Ensino médio (Enem) tornou-se um instrumento de preocupação dos colégios. No Rio, com a adesão total à prova por UFRJ, UFF, Unirio e Rural nos últimos três anos, as Escolas têm procurado adequar os currículos dos Ensinos médio e fundamental para que o desempenho dos Alunos seja tão bom ou melhor que nos vestibulares tradicionais.
A divulgação do ranking do Enem 2011, na última semana, provocou alvoroço entre as instituições de Ensino, mas especialistas alertam que essa classificação está longe de ser o ideal e, tampouco, o único critério a ser levado em conta na hora de escolher onde matricular o filho.
O tema provoca tantas dúvidas e controvérsias que Chico Soares, um dos principais pesquisadores do setor no país, elaborou um guia com as perguntas mais frequentes sobre o assunto. Integrante de conselhos consultivos do Inep e da UFMG, ele afirma que o ranking é apenas uma dimensão a ser levada em conta, mas com muitas imprecisões. Entre elas, cita o fato de ser baseado na média e esconder que, mesmo nas Escolas que estão nas posições mais altas, há Alunos que não se saíram bem. Por isso, ele diz que a colocação Escolar no ranking pode servir apenas como primeiro filtro:
- O ranking da Escola é apresentado sem uma faixa de erro. O aprendizado dos Alunos depende muito do que eles trazem de casa, de seu capital cultural. Assim, a posição da Escola reflete muito mais o potencial dos Alunos que conseguiu matricular do que a excelência de seu projeto pedagógico - explica.
O pesquisador acrescenta:
- São tantas as limitações, que usar apenas a posição da Escola como critério de decisão é pouco racional. Escolher a Escola é principalmente escolher com quem os filhos irão conviver. Essa decisão deve considerar, entre as opções, aquele projeto pedagógico que se alinha com os valores e expectativas da família. A Educação é muito mais ampla que um ranking: é para a vida.

Unidades só para bons Alunos
Chico Soares chama atenção ainda para o fato de redes de Ensino criarem unidades específicas só para bons Alunos visando elevar as médias do Enem. Para ele, essas distorções são graves. Escola com a melhor média nas notas objetivas no Enem 2011, o Objetivo Colégio Integrado, em São Paulo, foi duramente criticado por criar uma filial apenas para os melhores estudantes e com Professores selecionados. Apesar de o diretor João Carlos Di Genio não ver problemas nisso, Educadores são contra. Professor da FAAP e membro da diretoria do Sindicato de Professores de São Paulo, Arthur Costa Neto condena essa prática bem como o ranking:

- Nunca fui a favor de uma Escola vestibulesca e não dou muita importância a avaliações do tipo. O importante é que ela transmita valores como cidadania e arte, com os quais essas Escolas vestibulescas não estão preocupadas.
Para ilustrar, Costa Neto, que é vice-presidente da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, cita o exemplo do próprio filho:

- Ele é muito inteligente, mas não se adaptava à rotina Escolar. Na faculdade, não estudava nada, mas prestava atenção às aulas e tirava as notas mais altas. O mais importante é o pai respeitar a personalidade do filho. Qual o melhor critério para escolher a Escola para ele: prepará-lo para a vida ou para o vestibular? Difícil é encontrar uma que concilie os dois. Se for preciso, matriculo meu filho em um cursinho para cumprir essa segunda tarefa.
No Rio, dois fatores prejudicaram as Escolas no ranking: a exclusão da nota da redação no cálculo da média, que levou em conta apenas as provas objetivas; e a inclusão na lista apenas dos colégios que tiveram ao menos 50% dos Alunos concluintes inscritos no Enem. Este segundo critério pode ser o motivo de as duas unidades do Santo Agostinho não terem aparecido na classificação. Porém, o mais provável é que tenha havido um erro do Inep, já que as filiais do Leblon e da Barra ficaram entre as 20 melhores do Enem 2010, e a maioria dos Alunos fez a prova em 2011.
Erro similar havia acontecido com o Andrews e a Escola Sesc de Ensino médio, que notificaram o Inep a tempo de correção e inclusão na lista. No entanto, vários colégios cariocas, como pH, AZ, Mopi e Centro de Educação e Cultura, reclamam que não receberam os resultados antes de eles serem divulgados. Alguns divergem da taxa de participação de Alunos indicada pelo Inep, e outros sequer figuram na lista. O Ministério da Educação garante que os dados estão corretos e que todas as Escolas receberam os resultados. Segundo o MEC, a lista não será alterada.
Dúvidas quanto à metodologia
Consultora e doutora em Educação, Regina de Assis acredita que todo esse cenário depõe contra a confiabilidade do ranking:

- Estamos vendo um escamoteamento de dados que não dão o retrato real do que está acontecendo. Isso é grave. Não dá para confiar. Como o Enem vai se tornar um instrumento de redimensionamento das políticas públicas para melhorar o desempenho dos Alunos se a amostra e a metodologia deixam a desejar? As famílias não devem levar em conta só o ranking do Enem, que trabalha com provas padronizadas. É preciso visitar as Escolas e procurar as propostas pedagógicas e os valores com que mais se identificam.
Reynaldo Fernandes, ex-presidente do Inep, defende a legitimidade do ranking. Foi em sua gestão que as notas do Enem por Escola começaram a ser divulgadas. Ele diz que a lista não deve ser o único critério na escolha de um colégio, mas é que ela é um dos melhores indicadores de comparação:
- A avaliação de uma Escola é um critério de julgamento de valor. As provas são indicadores que ajudam a formar juízo crítico da Escola. Quanto mais informações houver, melhor. O ranking do Enem é um dos poucos comparáveis entre Escolas e um dos melhores. As comparações são inevitáveis, e as pessoas as usam como referência. Quem é de classe média e alta do Rio vai olhar as Escolas tradicionais. Assim como pessoas que não têm boas condições financeiras não vão procurar o São Bento para matricular o filho.
O Enem não é uma avaliação de escolas
É natural que pais, estudantes e sociedade em geral queiram saber quais são as Escolas em que muitos Alunos estão conseguindo boas pontuações no Enem. Afinal, o exame ganhou grande relevância ao assumir o papel de processo seletivo para universidades federais e ao se tornar um meio para a obtenção de bolsas de estudo em universidades particulares. No entanto, alguns números podem não ilustrar de forma fiel a qualidade da Escola ou o quanto ela vai influenciar no ingresso do Aluno no Ensino superior.

Avaliar Escolas do Ensino médio é um grande desafio. Primeiro porque, além do background familiar dos Alunos, conta também o que eles aprenderam nas Escolas em que estudaram anteriormente. Além disso, o formato do Enem não é próprio para avaliar Escolas e sistemas por diversas razões. Por exemplo: o exame não é obrigatório, o que faz com que o percentual de Alunos que faz a prova seja diferente em cada localidade; e também a motivação para fazer a prova varia dependendo de onde estudam.
Então, como ler os números? Primeiro, é importante procurar informações sobre o perfil dos estudantes atendidos. Se a Escola seleciona Alunos, isso pode estar auxiliando no resultado. Se ela recebe Alunos com resultados ruins no Ensino fundamental, isso pode ter influenciado negativamente no resultado divulgado. Procurar entender o motivo pelo qual os Alunos de determinada Escola fizeram o exame também é importante.
O essencial é ter em mente que ranquear as Escolas com base em suas médias traz o risco de análises erradas. Os resultados divulgados talvez possam auxiliar em um filtro inicial de Escolas mas, para uma avaliação mais qualificada, é necessária a coleta de muitas outras informações, tanto quantitativas como qualitativas. E, infelizmente, temos poucas informações disponíveis, de modo acessível, para auxiliar na avaliação de Escolas do Ensino médio, algo em que o próprio Inep e os pesquisadores precisam investir.
Em Teresina, uma escola sempre entre as melhores
Com mil alunos no ensino médio, de um total de 3.200 somando-se os dos ensinos fundamental e infantil, o Instituto Dom Barreto, em Teresina (Piauí), segundo o resultado do Enem, é o sexto melhor do país. A carga horária é de oito horas/aula diárias, mas está aumentando para 12 horas para alunos que querem cursar o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e o IME (Instituto Militar de Engenharia) ou universidades americanas como Columbia e Yale.

Quinze alunos foram selecionados para universidades de elite americanas; 15 foram aprovados, em 2011, para cursar engenharias de ponta na Universidade de São Carlos; e alunos que preferem Direito e áreas Humanas e mecatrônica têm se matriculado na UnB. Além disso, muitos ex-alunos estão estudando em Holanda, França e Alemanha.
A diretora-geral do Dom Barreto, Maria Stela Rangel, conta que os alunos do ensino médio cursaram ali o ensino infantil:
— Além das oito horas de aulas diárias, um dia na semana eles fazem as provas pela manhã. São mais quatro horas. Os meninos têm uma carga horária bem puxada.
Dos mais de 300 professores quase todos têm mestrado e 20 têm doutorado ou estão defendendo teses.
Além das disciplinas tradicionais, o Dom Barreto oferece aulas de xadrez, inglês, espanhol e latim, que os ajuda em disciplinas como biologia e química por ensinar a origem das palavras. O colégio usa parte de seu rendimento para manter duas escolas para alunos carentes em Teresina.
— Oferecemos aos alunos o que eles precisam como cidadãos. Ensinamos as disciplinas de forma tradicional e temos como prioridade trabalhar o social — conclui Maria Stela.

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