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12 de set. de 2012

Literatura e democracia

Lançado em 1981, o aclamado “Os filhos da meia noite”, de Salman Rushdie, acaba de ser adaptado para o cinema pelo diretor indiano-canadense Deepa Mehta, com roteiro do escritor. A história acompanha a vida de Salleem Sinai, nascido no dia da independência indiana, em 1947, e dotado com o poder da telepatia, que o permite reviver a história de sua família desde o começo do século até os anos 1970.

Literatura e democracia II

Porém, ao que tudo indica, a película que será distribuída em 40 países, não chegará às telas indianas. Uma censura velada vem mantendo afastados possíveis distribuidores, em mais um exemplo da dificuldade das lideranças locais em lidar com críticas aos seus políticos. Soma-se a “Os filhos da meia noite”, com sua nada lisonjeira descrição da ex-primeira ministra Indira Gandhi, as ameaças de processos judiciais ao autor de um biografia romanceada da nora de Indira; o cancelamento da participação de Rushdie num festival literário no país, por conta das ameaças de grupos islâmicos locais; e a censura a “Versos satânicos” ainda hoje proibido no país.

Literatura e democracia III

Rushdie tem sido nas últimas décadas, desde sua condenação à morte pelas lideranças religiosas iranianas por conta de seus “Versos satânicos”, o autor mais emblemático das censuras e perseguições que acompanham escritores (e outros artistas) ainda no século XXI. E o afastamento de “Os filhos da noite” do espectador indiano passa a ser simbólico das tensões políticas e sociais que marcam a ascensão de países antes secundários, como os chamados BRICS.

Literatura e democracia IV

Se na Rússia, que em nada lembra a potência literária do século XIX, a mão forte do governo Putin tem dado exemplos seguidos de sua dificuldade em lidar com a crítica e a diversidade cultural (o caso Pussy Riot é apenas o mais recente). Na China, não são poucos os artistas perseguidos pelo regime, e não é pequeno o grupo de auto-exilados em outros países. Se o caso Rushdie expõe bem a Índia atual, o Brasil segue refém de leis como a que rege a divulgação de informações sobre pessoas públicas, que vem sistematicamente excluindo do mercado biografias de personagens de nossa história.

Literatura e democracia V

A lista faz pensar sobre a imensa dificuldade desses países que ganharam relevância crescente no campo econômico, em estruturar sistemas realmente democráticos, enfrentando de frente a construção da complexa e incontornável liberdade de expressão. Autores perseguidos ou censurados, livros retirados das livrarias e filmes afastados das telas são indicativos óbvios de que falta muito a caminhar.

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