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19 de set. de 2012

Como Shakespeare pode ajudar a ministra

No final do século XVI, os donos de teatro de Londres testam um novo modelo de negócio. Saem os atores com seus chapéus tombados, correndo entre o público, nasce a bilheteria. Paga-se antes de entrar, paga-se mais por lugares melhores. O sistema dá certo e começa a ser replicado. Nesse novo acordo, parte do valor arrecadado é repassado aos atores, que ao final de cada espetáculo colhem apenas aplausos ou apupos.

Como Shakespeare pode ajudar a ministra II

Esse modelo, que prospera, irá consolidar-se como uma das mais populares opções de lazer de uma metrópole em pleno crescimento. Resistindo aos ataques dos moralistas que se opõem ao teatro popular, e atraindo um público ávido por diversão. Nesse novo cenário, as companhias de teatro que viviam até então de uma rotina nômade, viajando com sua parafernália por todo o país, podem enfim se fixar, e se dedicar a entreter esse público afluente.

Como Shakespeare pode ajudar a ministra III

É esse mercado em transformação que Shakespeare encontra quando chega a Londres para iniciar sua carreira. E a demanda por textos que alimentem essas companhias é o que cria as condições de novos autores, como ele, prosperarem. A passagem é detalhada no saboroso “Como Shakespeare se tornou Shakespeare”, de Stephen Greenblatt. E pode nos ajudar a pensar em modelos de indústria cultural numa semana em que o país tem novo ministro na área.

Como Shakespeare pode ajudar a ministra IV

O caso do teatro na Inglaterra elizabetana, assim como a consolidação da indústria editorial na passagem do século XVIII para o XIX, que possibilitaria o surgimento do romance moderno, são exemplos clássicos do papel dos empreendedores na transformação da indústria cultural. Processos que se opõem à dinâmica de nosso mercado nos últimos anos. Marcado, com raras exceções, pela dependência quase absoluta de dinheiro estatal, em suas mais distintas versões (patrocínio, leis de incentivo, editais, concursos etc).

Como Shakespeare pode ajudar a ministra V

Esse cenário, mais do que incentivar uma geração de empreendedores com aversão ao risco, cujo know-how principal passa a ser a análise de editais, gera entre seus efeitos nefastos a homogeneização do gosto e de obras, e a acomodação dos criadores. Incentiva, a partir de uma lógica tortuosa, um setor que não sabe andar com as próprias pernas, em que se perde a fagulha criadora, que quando une artistas e empreendedores pode transformar a vida cultural e intelectual de um país.

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