Festival de Gramado: "Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida"
Seguindo a tradição, o festival realiza diariamente sua série de debates dos filmes exibidos na competição. O primeiro deles foi com a equipe do filme "Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida", do diretor Matheus Souza, que se apresentou com os atores Clarice Falcão e Rodrigo Pandolfo. Realização pessoal de Matheus Souza, a história traz muito de seu autor. "O que eu sei fazer é falar sobre mim, sobre meus amigos e minha geração. E o título vem da minha própria vida, de um momento em que eu me olhei no espelho e fiz a tal afirmação", comentou Matheus. De acordo com o diretor, o filme custou em torno de 20 mil. O resultado, no entanto, segundo o diretor, não se altera e a mensagem faz jus ao que ele quis passar: "Crescemos com conceitos mastigados sobre honra, amizade, lealdade, amor… Mas as coisas não são como nos ensinaram. É clichê, mas eu também ainda não sei muito bem o que eu tô fazendo com a minha vida". Matheus Souza também revelou que estar no Festival de Cinema de Gramado é a continuação de um sonho que começou a se tornar realidade quando ele começou a filmar, e se disse honrado em dividir a sessão noturna com Fernando Meirelles, que exibiu "360" fora da competição.Festival de Gramado: "Super Nada"
Dirigido por Rubens Rewald e Rossana Foglia, "Super Nada" surgiu com a proposta de contar os dramas de um personagem urbano com foco em questões familiares, afetivas e profissionais. "Outra ideia central é o não. É uma história sobre como existe apenas um sim para dez respostas negativas, sobre alguém que acredita na possibilidade de ser muito mais do que a vida lhe proporciona", comentou Rewald. O ator Marat Descartes, também presente ao debate, revelou que não foi fácil aceitar o papel do ator que sonha em ser grande profissionalmente: "Quando o diretor me convidou, entrei em crise, porque não achava que tinha a idade para o papel. Mas depois percebi que não ter se encontrado na carreira não tem idade. Pode acontecer a qualquer um, em qualquer profissão". Outro ponto de destaque do debate foi a participação de Jair Rodrigues no elenco de "Super Nada". O papel, de acordo com a equipe, não era fácil. "É um papel arriscado para um ator consagrado. E tinha que ser alguém de peso, não um super nada", comentou a codiretora Rossana Foglia. Após conflitos de agenda com vários atores que haviam topado participar, como Marcos Caruso e Otávio Augusto, a ideia de Jair Rodrigues foi aprovada. "Quando convidamos o Jair, ele disse que já tinha feito tudo de música e que seria divertido atuar. E ele topou. Aí adaptamos o roteiro para o Jair, que, poucos sabem, já tinha feito cinema", contou Rubens. "Super Nada" ainda é definido pelo diretor como o retrato do nicho de uma cidade. No caso, o teatro paulista, onde Rewald tem vasta experiência.Festival de Gramado: "Tropicalismo Now!"
"Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!" também foi a pauta do tradicional debate do Festival. Os diretores Ninho Moraes e Francisco Cesar Filho, juntos com a equipe, explicaram que o longa é uma visão diferente sobre o tropicalismo: "Ele complementa longas como "Tropicália" e "Uma Noite em 67". É, na realidade, uma visão de agora sobre aquele momento. Não é um resgate, é um retrato de como o tropicalismo aparece nos dias de hoje". Para tal abordagem, os diretores foram cautelosos ao escolher os entrevistados do filme. Caetano Veloso, por exemplo, apesar de ser tema de muitos depoimentos, não aparece. Isto, no entanto, é escolha dos próprios diretores. "O próprio Gilberto Gil aparece no filme mais como ministro da cultura do que como tropicalista. E o Caetano já disse tudo o que tinha a dizer sobre o assunto em um livro que escreveu", comentou Ninho. E, apesar dos depoimentos e da narrativa “datada” (termo utilizado pelo próprio Ninho), ele não categoriza o filme como documentário, mas sim como um trabalho poético e tropicalista ilustrado por um show. No debate também estava presente o músico André Abujamra. Ele comentou que, mesmo conhecendo os diretores de longa data, a experiência foi um desafio: "O filme é um trapézio sem rede. É muita responsabilidade fazer arranjos de músicas tropicalistas. Foi uma experiência arriscada, mas acredito que está dando certo".Festival de Gramado: "Colegas"
"Colegas" foi o centro das atenções no debate que ocorreu na manhã seguinte à exibição do filme. O diretor Marcelo Galvão estava presente junto com sua equipe. O roteiro do filme começou a ser escrito em 2005 e, após passar por muitos tratamentos, chegou ao ponto em que o diretor queria filmá-lo: "O meu desejo é que 'Colegas' seja uma espécie de 'Goonies'. Ou seja, que ele se torne um filme para crescer com o público juvenil, para morar na memória dele e acostumá-lo a enxergar os portadores de síndrome de down com normalidade". Sobre esta "normalidade", a atriz Juliana Didone destacou a desenvoltura do trio de protagonistas – portadores da síndrome – e a total sinceridade deles: "Foi uma experiência de vida. Eles não têm as máscaras que nós colocamos". "Colegas" é um filme sobre síndrome de down que, no entanto, teve enorme dificuldade nas tentativas de captar recursos, o que assustou o diretor Marcelo Galvão, que não esperava tanta rejeição devido à importância do tema inclusão social. As dificuldades, no entanto, não intimidaram os envolvidos na equipe: com orçamento de seis milhões, otimizaram a verba, cobraram pequenos cachês do elenco e reuniram mais de 300 atores para testes. "No final das contas, tudo o que nós desejamos, conseguimos para o filme. De todos os trabalhos que já fiz, esse foi a que teve a energia mais gostosa", comentou o diretor. A dedicação e o interesse pelo tema também vem de uma questão pessoal. Marcelo Galvão cresceu com um tio portador de síndrome de down e pensou muito na abordagem do tema: "Usamos termos como ‘retardado’ e ‘mongolóide’ de propósito no filme. Através dessa forma caricata, queríamos fazer uma crítica".Festival de Gramado: "Insônia"
Os debates do Festival de Cinema de
Gramado continuaram com a equipe de "Insônia", que mostra o cotidiano
amoroso e familiar de uma adolescente de 15 anos. Segundo o diretor Beto
Souza, a obra tem um caráter específico: "É um filme de segmento mesmo,
para um nicho pouco explorado aqui no Brasil. Mais do que isso, é uma
história universal, que mostra como o mundo contemporâneo é veloz". Lara
Rodrigues, atriz do filme, diz se identificar com sua personagem em
alguns aspectos e elogiou a equipe de "Insônia": "No início, fiquei
muito nervosa por ter que interpretar uma protagonista. Mas a equipe foi
receptiva e me deu muito suporte. Foi uma experiência muito diferente".
Um ponto importante discutido no encontro foi a distribuição de
longas-metragens no Brasil. "O processo do filme acaba na sala da
exibição. Já no orçamento temos que separar uma parte da verba para a
distribuição. E o Brasil parece não entender isso. Depois reclamamos que
cinema americano toma conta das salas". O produtor executivo, Beto
Rodrigues, fez coro ao diretor e comentou o caráter abrangente do filme:
"É difícil achar produtoras que abracem o teu projeto só lendo roteiro.
Mas 'Insônia' tem dois eixos narrativos. É um filme que se comunica com
os jovens e a família também".
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