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1 de abr. de 2012

RELACIONAMENTO
Mulheres estão se casando mais tarde
   
Publicado em 31/3/2012, às 19h11
   

Júlio Black

Volta Redonda

Conhecer alguém, casar e ter filhos – desde que com a realização profissional. Essa mudança de paradigma no comportamento da mulher brasileira nas últimas décadas é comprovada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que, em recente estudo, mostra que o sexo feminino está entrando na vida a dois cada vez mais tarde. Segundo o instituo, utilizando estatísticas do Registro Civil, a elevação da idade em que as mulheres se casam é observada desde a década de 1980, com uma acentuação dessa tendência na década seguinte.
De acordo com os dados apurados, o percentual de mulheres que se casavam entre os 15 e 24 anos em 1999 era de 54,2%, contra 28,3% das que tinham entre 25 e 34 anos. Já as mulheres de 35 a 44 anos representavam apenas 7,2% do total.
Em poucos anos, porém, os números se alteraram drasticamente: já em 2010 o total de mulheres que se casavam entre os 25 e 34 anos superou o grupo entre 15 e 24, passando a representar 40,4% do universo feminino, contra 39,9% do grupo mais novo. O percentual quase que dobrou entre as mulheres entre 35 e 44 anos, que agora respondem por 12,1% dos matrimônios.
Dentre os vários motivos que levam o sexo feminino a postergar a união com a razão do seu afeto está a necessidade da conquista e estabilidade profissional, como é o caso da médica Karine Maciel Fabiano, de 34 anos, e sua irmã, a empresária Marcele Maciel Fabiano, de 32. Casada há três anos após oito de namoro, Karine procurou se aprimorar em sua área de atuação antes de oficializar a união.
- No meu caso o que fez com que adiasse os planos foi a profissão. Para poder aprimorar e subespecializar temos que correr muito atrás. É bastante cansativo e tem que haver muita dedicação – explicou.
- O amadurecimento profissional e maior estabilidade financeira estiveram em destaque até os 30 anos, queria conquistar meu espaço. Coincidentemente encontrei meu marido quando fiz 30 anos, e já estávamos os dois encaminhados na vida profissional – disse Marcele, que se casou em março.
A preocupação em ter a estabilidade financeira em primeiro lugar para depois pensar em união é uma questão que, segundo a médica Karine, é compartilhada dentro do círculo de conhecidas – o que, para ela, não impede que cada uma venha escolher o caminho que considere melhor.
- Cada caso é um caso. Existem mulheres que tem o sonho do casamento, que sempre desejaram uma família perfeita, uma casa linda... Eu adotei a independência profissional antes do casamento, e deu certo – afirmou.
Marcele declarou que também vê em suas amigas que ainda não se casaram que a preocupação é muito maior em conseguir um bom emprego do que se casar e construir família.
- É como se construir família pudesse ser numa fase mais madura da vida, enquanto que se estabilizar num bom emprego fosse mais urgente – pontuou.
A empresária enumera as vantagens que observou ao procurar estruturar a carreira antes de partir para a vida a dois.
- Não podemos generalizar, mas acho que o casamento tende a dar mais certo quando ambos estão mais maduros e centrados, inclusive profissionalmente. Assim fica muito mais tranquilo de investir na família e no futuro da relação. Não brigar por coisas tão bobas, ter mais segurança em si mesma. Acho que essa é a diferença principal que vejo nas minhas relações mais jovens em relação ao que tenho hoje.
A opinião de Marcele é compartilhada pela irmã, que enumera os pontos positivos:
- Poder ajudar nas despesas com a casa, com os filhos, tomar decisões em conjunto, sem submissão. Compartilhar, somar para dividir e não dividir para somar. Casando jovem, além de não termos maturidade suficiente para encarar uma vida a dois, nunca poderíamos correr atrás de nossa profissão e seríamos sempre dependentes de alguém. Acho que hoje em dia a mulher está buscando mais independência, liberdade – encerrou.

Sem arrependimento da espera

Para a secretária Lívia Cardoso, de 32 anos, o fato de o homem ter deixado de ser o único provedor da família foi um dos motivos de ter procurado se aprimorar profissionalmente. Solteira e mãe de um casal de crianças, ela não descarta o matrimônio, mas afirma que preferiu adotar outro caminho na vida.
- Ainda não encontrei a pessoa certa e, ao invés de ficar procurando, privilegiei meus estudos e minha carreira, mas não deixei de ter filhos. Fiz ao contrario: carreira, filhos e - quem sabe - deixar um dia de ser solteira – disse ela, que terminou o último relacionamento sério há três anos.
Estudando atualmente para a área de Logística, ela confessa que tem passado muito tempo estudando e ainda precisa se estabilizar profissionalmente. Ao mesmo tempo, porém, acredita que a pessoa nunca está pronta para a vida a dois, uma vez que esta seria “uma caixinha de surpresas”.
Namorar para não ficar sozinha também não faz parte dos planos dela.
- Acho mais saudável um relacionamento onde cada um respeite o espaço do outro, sem paranoias bobas e ciúmes exagerados. Vaga há disponível, só não há quem tenha qualificação! O mercado é competitivo até nos assuntos do coração – comparou.
Outra a acreditar que as mulheres estão priorizando a carreira e a estabilidade profissional para depois se dedicarem à família é a jornalista Isabele Fernandes, de 30 anos. De acordo com ela, a estabilidade financeira permite uma tranquilidade maior para a construção do núcleo familiar.
- Pensei em ajeitar a vida em primeiro lugar. Apesar de ainda não ter planos de casar, acabei investindo em especializações – disse ela. - Eu não casaria hoje porque ainda não tenho uma situação financeira estável. Continuo estudando e fazendo especialização para tentar melhorar. Mas se tivesse condições junto com o "marido" de ter uma vida financeira legal, sem passar apertos e juntos sustentar uma casa, acho que seria diferente.

Fatores interligados para a mudança

A psicóloga Viviane Andrade Pereira disse que não se pode pensar apenas em um fator isolado para explicar as mudanças sociais que são observadas. Segundo ela, hoje as pessoas casam mais tarde (tanto homens quanto mulheres) e, assim, têm um tempo maior para se estabilizar profissionalmente – e também terem filhos mais tarde.
- Nós temos concepções diferentes para uma determinada idade em épocas diferentes. Antigamente era normal as mulheres se casarem aos 22, 23 anos, e hoje é considerado muito cedo. Nós temos um processo de construção social e de saúde, pois atualmente temos casos de mulheres tendo filhos aos 45 anos, quando, antigamente, uma gravidez aos 35 já era considerada de risco – argumentou.
Ela também vê outros pontos que devem ser levados em consideração ao analisar os números do IBGE.
- Muito disso é em razão do mercado de trabalho, que leva a mulher a querer e precisar trabalhar. Além da mudança na família brasileira, pois temos muitas mulheres na posição de chefes de família. A própria liberdade que temos atualmente leva as pessoas a se relacionarem sem precisar partir para o casamento – pontuou.
Viviane aproveita para lembrar o ônus e os benefícios que o sexo feminino tem com seu novo papel na sociedade atual.
- Essa questão é negativa se a mulher não se casar por falta de opção, se isso a deixa mais amarga. E é preciso levar em consideração também que ser mãe numa idade mais avançada vai fazer com que ela tenha menos tempo de vida com os filhos e netos, mesmo que com maior maturidade. Porém, é positivo, sim, se é uma opção casar mais tarde ou ficar solteira, desde que seja uma escolha. A mulher não pode esperar pelo homem para então trabalhar – observou a psicóloga.

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