Dourado do Sul
Os iniciados do vinho - e mesmo aqueles que no passado só ouviram falar (serviam nos voos intercontinentais da Varig) lembram-se do châteauneuf-du-pape. O nome tem a ver com o Papa. As garrafas são espessas, gravadas com o brasão impressionante do Vaticano. O vinho que contêm sempre foi uma lição paciente de aprendizado, humildade e receita da natureza. Era um belo vinho tinto? Não só. É também um grandioso branco, por exemplo, na mão da família Perrin. O Chateau de Beaucastel branco 07 que me escoltou o domingo, 80% de uvas roussane e as demais nativas - bourboulenc, grenache blanc e outras da terra - fizeram a festa. receioDourado do Sul II
E o que têm essas uvas de especial, por que duram em garrafa, porque mantêm o vinho denso e aromático naquele sagrado frescor? O que faz essas misturas de uvas nativas se equilibrarem, avançarem pelos anos - estamos falando aí de cinco anos, quase - sem perderem a maciez perfumada que se evola da borda do copo? As vinhas do chateauneuf dos Perrin são antigas, velhas de mais de 7o anos, o que explica em parte alguma coisa. Não explica tudo - e exatamente o que não explica é esse mistério rural, escolhido entre tantos, que transforma uma boa planta numa boa cepa, num bom tonel, numa boa garrafa. Esse processo a alguns foi dado - mas não a muitos.Dourado do Norte
Numa garrafa esguia e alta, verde escura, com a tampa nas cores vermelha e branca da Áustria, o Rielsing Wachstum Bodenstein 09 de Franz Prager contrastava com o branco francês. Em tudo era diferente. Levemente frisante, com o carbônico ainda presente , resultado de uma guarda estanque em cubas der aço, ele se mostrava, como o anterior, nos tons dourados de uma maturidade precoce. Que, na minha opinião, depois de três ou quatro goles, alterou marcadamente a sua gradação alcoólica. Parecia mais denso, mais licoroso, mais potente. Os rieslings da região do Wachau, da categoria Smaragd (esmeralda, a máxima) tendem a amadurecer, tornando-se potentes. Balançam o degustador.Passo atrás
O que dizer mais sobre as salvaguardas contra os importados? Tudo já foi dito antecipado, tristemente, pelos colegas e jornalistas de vinho. Os números falam por si, e de forma impressionante. É uma reserva de mercado fadada a lançar o país para trás, como outras o fizeram. Tudo foi tentado, o selo, o contra-rótulo e agora o rótulo traduzido em português, o que fará do Brasil o único exemplo de pais protecionista do mundo que tem nomes de grandes vinhos traduzidos. Se o Zimbábue tivesse vinhos importados o próprio Robet Mugabe acharia a idéia esdrúxula. Mas há tantos esdrúxulos nacionalistas, como Evo, Kirchner, Correa, Ortega - não estamos sozinhos.Atraso ingênuo
Nessa questão da proteção ao produto nacional o que se discute não é a capacidade técnica nem financeira dos enólogos importados, do investimento feito nem da qualidade da terra - para produtos que não sejam o vinho, Diversos países tentaram fazer vinho mudando a configuração da terra, seus sais, sua geologia. Alguns conseguiram sucedâneos do vinho, como foi o caso dos plantadores do estado de Nova York, mesmo de Illinois, e de outros da Costa Leste americana. O que são os vinhos do estado de Washington no mercado internacional? Quem paga pelos preços que os americanos pagam? Quem ouviu falar deles? Vinho bom é notícia.
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