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23 de fev. de 2012

Distância de classe?

Existe alguma coisa mais antiga do que isso, esse tipo de distância? Pois o mundo do vinho ainda a mantém. Por questões comerciais, não difíceis de entender, os produtores desenham o mercado que querem atingir. Cumprem, com a ajuda da tecnologia, esses objetivos - mas nem sempre, ou quase nunca, fazem o vinho que um crítico ou consultor indicaria. Aí fica difícil falar de países produtores ou empresas que fazem acima de um milhão de garrafas. Lembro-me disso quando vejo, como agora, vinhos do Brasil presentes em quantidade, mas não em qualidade. O mercado de vinhos correntes, de supermercado, está saturado.

Briga sem saída

Esta discussão de vinhos espanhóis, que agora começam a adotar os sistemas de avaliação americanos, parece fora de propósito numa Europa que faz vinhos distanciados, separados em conteúdo e forma. Há os vinhos de qualidade e os vinhos de massa. E pronto. Os produtores espanhóis quiseram juntar os dois conceitos baseando-se no gosto e no estilo americanos. Assim tivemos uma grande mudança na região da Rioja e uma mudança ainda maior, mais recente, na região de Ribera del Duero - onde , a rigor, hoje, poucos vinhos se sobressaem. Com todo o respeito ao Vega Sicilia, que não pertence a nenhuma região geográfica, mas ao mundo.

A tesoura e a qualidade

Uma vez entrei numa farmácia na França em busca sede uma tesoura e unhas. O profissional atrás do balcão, polidamente, me perguntou quanto eu pretendia gastar: ‘O senhor deseja uma tesoura ou o senhor quer pagar pela qualidade?’. Aí entendi. Havia pelo menos três, quem sabe quatro tipos de tesoura. A que estava na vitrina era a comum. A qualidade, la qualité, era preciso indicar, para que ele a fosse buscar atrás de onde estávamos. Da mesma forma, raciocinei, estão ou deveriam estar os vinhos de consumo normal e os de qualidade. Tudo uma questão de significado, de definição de propósitos.

O sal da terra

Onde encontrei esse sal, que hoje faz tanta falta aos vinhos modernos? Nos bordeaux anteriores a 1990, sem dúvida. Nos vinhos camponeses que não têm condições de arredondar o mosto em madeira nova. Minha primeira lembrança fora das degustações de vinhos chiques vem de um bistrô em Paris onde havia, escondida na carta, uma garrafa de Chateau Canon 85, um saint-émilion de altíssima tradição, hoje um pouco perdido no canhoneio dos vinhos de Bordeaux. Esse Canon 85 tinha o que eu chamei na hora do sal da terra, de Bordeuaux, da Aquitânia, das perfeitas imperfeições de um terreno que dava o que dava, sem mais.

Os senhores do estilo

Quem são hoje? Numa avaliação justa. Não podemos deixar de fora a Califórnia, embora esse blog conheça pouco dos vinhos que vêm, de lá com Volgin, Heitz e Ridge certamente fará parte de qualquer jantar, assim como Opus One e Dalla Valle. São um estilo, um gosto, uma forma. Na Europa, o Piemonte, a Borgonha e a Mosela e demais regiões do Reno (Rheingau, Pfalz e Saar) surgem como detentores de um estilo que não pode ser imitado. Esta talvez seja a melhor definição. Pode-se copiar um vinho da Califórnia, não se pode fazer o mesmo com um vinho alemão ou do vale do Loire - como o Bonnezeaux, o Vouvray e mesmo o Muscadet.

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