A boca gulosa do cinema e a literatura
Uma corrida pelas livrarias antes de escrever esta coluna. No caminho, cruzo meia dúzia de salas de cinema. Ao seguir pela seção de lançamentos das livrarias, a constatação: os títulos são praticamente os mesmos que há pouco vira nos cartazes promocionais das salas de exibição – “Precisamos falar sobre o Kevin”, “O espião que sabia demais” e “Milenium” são só alguns exemplos.A boca gulosa do cinema e a literatura II
Balizadas pela proximidade do Oscar, a estreia de seus principais concorrentes e as demais premiações que semanalmente mantém os filmes nos jornais, as editoras tentam aproveitar esse período para colocar no mercado os famosos livros “que deram origem ao filme”. Pode funcionar como estratégia comercial, e, efetivamente, há interesse do leitor em rever os personagens ou tramas favoritos. Mas há uma sensação que paira no ar como um vaticínio: o papel coadjuvante da literatura em relação ao cinema.A boca gulosa do cinema e a literatura III
É o que parece acontecer com as outras artes (a literatura e a música em especial) diante da potente indústria audiovisual. Esta atua com apetite voraz fazendo de todo e qualquer talento criativo um mecanismo de suas engrenagens. O que não é nenhuma novidade, dirão os menos passionais, o cinema sempre se valeu de livros para alimentar suas tramas. O que é um fato. Mas, é possível também retrucar, desta vez há um dado novo, que altera a própria produção literária.A boca gulosa do cinema e a literatura IV
A possibilidade das adaptações, além de seduzir autores de livros, vem criando uma preponderância de um determinado tipo de narrativa, em detrimento de outros modos de narrar. O que choca-se com a própria natureza artística do fazer literário, que necessita, para se renovar e perpetuar, buscar novas formas que deem conta do mundo em que vivemos. Quando essa motivação torna-se secundária, a própria relevância dessa vertente artística é colocada em risco.A boca gulosa do cinema e a literatura V
E para fechar o cenário, ao menos neste espaço. Essa preponderância do audiovisual, e de obras produzidas a partir dos parâmetros desta indústria, criam uma espécie de monopólio das formas de narrar, condicionando gostos e parâmetros, aumentando a distância entre o leitor atual e modelos que se oponham a essas premissas. Parece banal mas não é. Os modelos narrativos dizem mais sobre a perspectiva de uma determinada época do que se possa imaginar.
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