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29 de jan. de 2012

José Carlos do Patrocínio (Campos dos Goytacazes, 9 de outubro de 1853 — Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 1905) foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Mulato, constitui-se em uma das mais destacadas figuras do movimento abolicionista e republicano no Rio de Janeiro. Filho de João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes e orador sacro de reputação na Capela Imperial, com Justina do Espírito Santo, uma jovem escrava Mina de quinze anos, cedida ao serviço do cônego por D. Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, proprietária da região. Embora sem reconhecer a paternidade, o religioso encaminhou o menino para a sua fazenda na Lagoa de Cima, onde José do Patrocínio passou a infância como liberto, porém convivendo com os escravos e com os rígidos castigos que lhes eram impostos.
Aos catorze anos de idade, tendo completado a sua educação primária, pediu, e obteve ao pai, autorização para vir para o Rio de Janeiro. Encontrou trabalho como servente de pedreiro na Santa Casa de Misericórdia (1868), empregando-se posteriormente na Casa de Saúde do Dr. Batista Santos. Aqui, atraído pelo combate à doença, retomou, às próprias expensas, os estudos no Externato de João Pedro de Aquino, prestando os exames preparatórios para o curso de Farmácia.
Aprovado, ingressou na Faculdade de Medicina como aluno de Farmácia, concluindo o curso em 1874. Neste momento, desfazendo-se a "república" de estudantes com que convivia, Patrocínio viu-se na iminência de precisar alugar moradia, sem dispor de recursos para tal. Um amigo, antigo colega do externato de Aquino, João Rodrigues Pacheco Vilanova, convidou-o a morar no tradicional bairro de São Cristóvão, na casa da mãe, então casada em segundas núpcias com o capitão Emiliano Rosa Sena, abastado proprietário de terras e imóveis. Para que Patrocínio pudesse aceitar sem constrangimento a hospedagem que lhe era oferecida, o capitão Sena propôs-lhe que, como pagamento, lecionaria aos seus filhos. Patrocínio aceitou a proposta e, desde então, passou também a freqüentar o "Clube Republicano" que funcionava na residência, do qual faziam parte Quintino Bocaiúva, Lopes Trovão, Pardal Mallet e outros. Não tardou que Patrocínio se apaixonasse por Maria Henriqueta, uma das filhas do militar, sendo também por ela correspondido. Quando informado do romance de ambos, o capitão Sena sentiu-se ofendido a princípio, porém vindo, após o matrimônio (1879), a auxiliar Patrocínio em diversas ocasiões.
Nessa época, Patrocínio iniciou a carreira de jornalista em parceria com Dermeval da Fonseca, publicando o quinzenário satírico Os Ferrões, que circulou de 1 de junho a 15 de outubro de 1875, no total de dez números. Os dois colaboradores se assinavam com os pseudônimos Notus Ferrão (Patrocínio) e Eurus Ferrão (Fonseca).
Dois anos depois (1877), admitido na Gazeta de Notícias como redator, foi encarregado da coluna Semana Parlamentar, que assinava com o pseudônimo de Prudhome. Foi neste espaço que, em 1879, iniciou a campanha pela Abolição da escravatura no Brasil. Em torno de si formou-se um grupo de jornalistas e de oradores, entre os quais Ferreira de Meneses (proprietário da Gazeta da Tarde), Joaquim Nabuco, Lopes Trovão, Ubaldino do Amaral, Teodoro Fernandes Sampaio, Paula Nei, todos da Associação Central Emancipadora. Por sua vez, Patrocínio começou a tomar parte nos trabalhos da associação.
Fundou, em 1880, juntamente com Joaquim Nabuco, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Com o falecimento de Ferreira de Meneses (1881), com recursos obtidos junto ao sogro, adquiriu a Gazeta da Tarde, assumindo-lhe a direção. Em Maio de 1883 articula a Confederação Abolicionista, congregando todos os clubes abolicionistas do país, cujo manifesto redige e assina, juntamente com André Rebouças e Aristides Lobo. Nesta fase, Patrocínio não se limita a escrever: também prepara e auxilia a fuga de escravos e coordena campanhas de angariação de fundos para adquirir alforrias, com a promoção de espetáculo ao vivo, comícios em teatros, manifestações em praça pública etc.
Em 1882, a convite de Paula Nei, Patrocínio visitou a província do Ceará, onde foi recebido em triunfo. Essa província seria pioneira no Brasil ao decretar a abolição já em 1884.
Em 1885, visitou sua cidade natal, Campos dos Goytacazes, sendo também recebido em triunfo. De volta ao Rio de Janeiro, trouxe a velha mãe doente, que virá a falecer no final desse mesmo ano. O sepultamento transformou-se em um ato político em favor da Abolição, tendo comparecido personalidades como as do Ministro Rodolfo Dantas, o jurista Rui Barbosa e os futuros presidentes Campos Sales e Prudente de Morais.
No ano seguinte (1886), iniciou-se na política, sendo eleito vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com votação maciça.
Em Setembro de 1887, tendo abandonado a Gazeta da Tarde para fundar e dirigir um novo periódico: o A Cidade do Rio. À frente deste periódico intensifica a sua atuação política. Aqui fizeram escola alguns dos melhores nomes do jornalismo brasileiro da época, reunidos e incentivados pelo próprio Patrocínio. Foi nele que Patrocínio saudou, após uma década de intensa militância, a 13 de Maio de 1888, o advento da Abolição.
Obtida a vitória na campanha abolicionista, as atenções da opinião pública se voltaram para a campanha republicana. Por ironia do destino, o "A Cidade do Rio" e a própria figura de Patrocínio passam a ser identificados pela opinião pública como defensores da monarquia em crise. Nesta fase, Patrocínio rotulado como um "isabelista", foi apontado como um dos mentores da chamada "Guarda Negra", um grupo de ex-escravos que agia com violência contra os comícios republicanos.
Após a proclamação da República (1889), entrou em conflito em 1892 com o governo do Marechal Floriano Peixoto, pelo que foi detido e deportado para Cucuí, no alto rio Negro (Amazonas).
Retornou discretamente ao Rio de Janeiro em 1893, mas com o Estado de Sítio ainda em vigor, a publicação do "A Cidade do Rio" continuou suspensa. Sem sua fonte de renda, Patrocínio foi residir no subúrbio de Inhaúma.
Nos anos seguintes, a sua participação política foi inexpressiva, concentrando-se a sua atenção no moderno invento da aviação. Iniciou a construção de um dirigível de quarenta e cinco metros, o "Santa Cruz", com o sonho de voar, jamais concluído. Numa homenagem a Santos Dumont, realizada no Teatro Lírico, quando discursava saudando o inventor, foi acometido de uma hemoptise, sintoma da tuberculose que o vitimou. Faleceu pouco depois, aos cinqüenta e um anos de idade, aquele que é considerado por seus biógrafos o maior de todos os jornalistas da Abolição.

Cronologia


1853: Em 9 de outubro José Carlos do Patrocínio nasceu em Campos (na então província do Rio de Janeiro), filho natural do padre João Carlos Monteiro e de Justina, escrava africana, vendedora de frutas.
1868: Patrocínio começou a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro.
1871: Por iniciativa do visconde do Rio Branco foi promulgada a Lei do Ventre Livre, reconhecendo como livres as crianças nascidas de mães escravas.
1874: Na Faculdade de Medicina, Patrocínio concluiu o curso de Farmácia.
1875: Com Demerval Ferreira publicou o primeiro número do quinzenário satírico Os Ferrões.
1877: Entrou na Gazeta de Notícias, respondendo pela coluna A Semana Parlamentar.
1879: Casou-se com Maria Henriqueta Sena, a “Bibi”. Iniciou a campanha pela Abolição da escravatura.
1881: Ingressou na Gazeta da Tarde, vindo a se tornar proprietário do periódico.
1882: A convite de Paula Nei viajou ao Ceará em campanha pró-Abolição; como fruto, dois anos mais tarde o Ceará foi a primeira Província brasileira a dar a emancipação aos escravos.
1883: Patrocínio redigiu o Manifesto da Confederação Abolicionista.

1884: Publicou o romance Pedro Espanhol.
1885: Promulgada a Lei dos Sexagenários, que concedeu a liberdade aos escravos com idade igual ou superior a 65 anos. José do Patrocínio visitou Campos, onde foi saudado como um triunfador. No Rio de Janeiro o funeral de “tia” Justina, mãe de José do Patrocínio, transformou-se num grandioso comício de repúdio à escravidão.

1886: Foi eleito vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
1887: Deixou a Gazeta da Tarde, fundou e passou a dirigir o A Cidade do Rio. Publicou o romance Mota Coqueiro ou A pena de morte.
1888: A 13 de Maio a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil; José do Patrocínio beijou as mãos da Princesa.
1889: Patrocínio publicou o romance Os Retirantes, inspirado na inclemência da seca sobre os habitantes do nordeste do Brasil. Foi acusado de fomentar a violenta ação da Guarda Negra em defesa do isabelismo. A 15 de Novembro a República foi proclamada no Brasil.
1892: José do Patrocínio importou da França o primeiro automóvel que circulou no Brasil. Movido a vapor, o seu barulho espantava os transeuntes. Por ter publicado, no seu jornal, um manifesto de um dos chefes da Revolta da Armada, o marechal Floriano Peixoto, desterrou Patrocínio para Cucuí, no alto rio Negro (Amazonas).
1893: Proibida a publicação do periódico A Cidade do Rio, Patrocínio estava reduzido à miséria.

1905: Numa homenagem a Santos Dumont, ao discursar, José do Patrocínio sofreu uma hemoptise; faleceu a 30 de Janeiro.

Obras

1875: Os Ferrões, quinzenário satírico, 10 números, em colaboração com Dermeval Fonseca;
1877: Mota Coqueiro ou A pena de morte, romance;
1879: Os retirantes, romance;
1883: Manifesto da Confederação Abolicionista;
1884: Pedro Espanhol, romance;
1885, 17 de Maio: Conferência pública, no Teatro Politeama, em sessão da Confederação Abolicionista;
Associação Central Emancipadora, 8 boletins.

Pseudônimos

Em artigos nos periódicos da época, José do Patrocínio usou os pseudônimos de:
Justino Monteiro (A Notícia, 1905);
Notus Ferrão (Os Ferrões, 1875);
Prudhome (A Gazeta de Notícias, A Cidade do Rio).

O Abolicionista

Um dos vultos mais importantes do século XIX, no Brasil, foi José do Patrocínio, que dedicou sua vida em prol da causa da libertação. Abolicionista, não se conformava em ver seus irmãos de pele sendo tratados como objetos de propriedade, vítimas de violência e humilhação. Daí o seu ardor político, como jornalista, como orador e depois como vereador, atividades estas que desempenhou em prol de seus ideais libertários. Importa dizer que, depois de proclamada a libertação dos escravos, Patrocínio ainda escreveu sobre uma cena deprimente que presenciara no Rio de Janeiro, o brutal espancamento de um animal utilizado em serviço de tração, demonstrando com isso que a causa abolicionista é uma questão ética e não deve ter fronteiras.

José do Patrocínio nasceu em Campos dos Goitacazes, Rio de Janeiro, em 9 de outubro de 1854. Naquele tempo, época da monarquia, o Brasil ainda vivia sob o sistema escravocrata. Ao chegar à capital para trabalhar como aprendiz de farmacêutico, o jovem Patrocínio passa a testemunhar, no dia a dia, a cruel realidade da escravidão. Anos depois, já formado em farmácia, ingressa na Gazeta de Notícias, onde escreve folhetins sob o pseudônimo “Prudhomme”. A partir daí, 1879, que se lança de corpo e alma à campanha pela libertação dos escravos.
A causa abolicionista torna-se, paulatinamente, a razão de sua vida. Afora o ofício de jornalista, Patrocínio desenvolve a técnica da oratória e, demonstrando grande habilidade com a palavra, começa a propagar seus ideais pelo Rio de Janeiro. Passa a escrever também na Gazeta da Tarde e na Revista Ilustrada, de modo a difundir ainda mais as sementes da liberdade. Em 9 de julho de 1880 foi fundada a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, sendo que três anos depois instala-se no Rio de Janeiro a Confederação Abolicionista, cujo expoente máximo é José do Patrocínio.
Foi assim que a atividade política fez com que ele se tornasse uma das vozes mais eloquentes pela abolição da escravatura, contando com o apoio e a amizade de personalidades como Rui Barbosa, Quintino Bocaiuva, Joaquim Nabuco, Prudente de Morais, Campos Sales, dentre outros republicanos célebres. Eleito para a Câmara Municipal em 1886, José do Patrocínio conquista o apoio popular para a causa da libertação, tanto que o denominaram “Apóstolo Negro” e “Tigre da Abolição”. Até que, finalmente, no dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assina o decreto n. 3.353, conhecido com a “Lei Áurea”, cujo texto proclama:
Art. 1º – É declarada extinta a escravidão no Brasil.
Art. 2º – Revogam-se as disposições em contrário.
Depois, já nos primeiros anos da República, uma insidiosa doença – hemoptise – instala-se no corpo do nosso paladino da liberdade, minando-lhe as forças. Nessa época José do Patrocínio assinava uma coluna no jornal A Notícia, sob o pseudônimo de Justino Monteiro. Depois de presenciar uma cena deprimente em que um homem espancava seu animal de carga, Patrocínio decide escrever sobre isso. Foi o seu último artigo, incompleto, publicado no dia 30 de janeiro de 1905. Ele não concluiu o texto porque, vencido pela moléstia, passou a verter sangue e, no mesmo dia, faleceu.
Vale lembrar as últimas linhas escritas pelo patrono da libertação, um texto favorável à causa dos animais escravizados:
“Eu tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma. Ainda que rudimentar, e que eles sofrem conscientemente as revoltas contra a injustiça humana. Já vi um burro suspirar como um justo depois de brutalmente esbordoado por um carroceiro que atestara o carro com carga para uma quadriga e queria que o mísero animal o arrancasse do atoleiro.”
Coube ao escritor Osvaldo Orico interpretar, com ímpar maestria, o significado daquela página inacabada, cuja mensagem final estava toda ela direcionada em prol dos animais escravizados:
“Realmente, essas onze linhas, em que todos os seus contemporâneos assinalaram a sombra de uma imagem, que lhe deu a violência criadora de todos os surtos – a Piedade – essas onze linhas escritas em defesa dos animais representam, de fato, o último alento da vida intelectual – o traço de harmonia entre aquele que viveu falando em favor dos humildes e, escrevendo em favor dos humildes, veio a morrer. A Piedade foi o sinal de seu gênio.”
O poeta Olavo Bilac, na Academia Brasileira de Letras, também proferiu palavras admiráveis em homenagem à memória de José do Patrocínio:
“O espírito do Redentor, ao despedir-se da existência, desenvolvia e apurava a sua capacidade de amar. Já não era somente o amor de uma faculdade. Já não era somente o amor de uma raça infeliz, que lhe enchia o coração, nem o amor somente de todos os homens: era o amor da Vida, amor de tudo quanto vibra e sente, de tudo quanto rasteja e voa, de tudo quando nasce e morre: ‘Eu tenho pelos animais um respeito egípcio; creio que eles têm uma alma!…”
Não teria sido em vão, portanto, o seu apelo definitivo em favor da liberdade, porque esse apelo não se dirigia apenas a homens escravizados pelos homens, mas também em favor de animais explorados pelo homem. Dor é dor, independentemente de quem a sente. José do Patrocínio, como poucos, conseguiu enxergar essa verdade e abraçar uma causa universal. Que a sua lição de vida possa inspirar as novas gerações.

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